Do Brasil, as mulheres falam pelo clima

Mulheres brasileiras ativas na luta ambiental tomaram a palavra no evento “Mulheres na ação climática”, o primeiro no pavilhão “Brazil Climate Hub” na COP27 em Sharm El Sheikh.

Por Emanuele Rippa

Tradução: Daniele Savietto

Na manhã de hoje foi realizado o primeiro evento do pavilhão “Brazil Climate Hub” na COP27 em Sharm El Sheikh. O evento, focado no tema mulheres na ação climática, contou com uma longa lista de palestrantes de diferentes povos e origens, todas fortemente comprometidas com o combate à exploração e destruição de áreas naturais.

O painel começou com um poderoso discurso de uma dos líderes do povo indígena Krenak da Mata Atlântica brasileira. A líder falou longamente sobre a importância de parar de falar apenas sobre a Amazônia e começar a pensar em biomas. São seis biomas no território brasileiro e é de extrema importância considerá-los todos no desafio contra o extrativismo, o desmatamento e a violência contra as comunidades indígenas.

A líder disse: “Quando as pessoas só falam da Amazônia estão me matando, porque eu venho da Mata Atlântica”, na sequência ela pediu para introduzir um fundo financeiro não só para a Amazônia, mas para todos os biomas.

Em seguida, ela falou sobre a memória dos povos indígenas e especificamente de seu povo, um dos mais antigos ainda presentes no estado de Minas Gerais, uma das áreas mais pobres do país. Ela o fez relembrando também 2015, ano em que seu povo foi vítima de um desastre ambiental, causado por uma grande mineradora, que “matou” os rios de sua comunidade poluindo-os.

O discurso foi então concluído com um canto, alternado entre a líder e o público, de uma canção na língua do povo Krenak.

Seguiu-se uma sessão plenária, onde 4 ativistas falaram sobre suas visões e suas lutas para aumentar a inclusão das vozes menos ouvidas no debate sobre a crise climática. Um tema compartilhado por todos foi o da importância de permitir que as pessoas mais afetadas ocupem espaços para seus debates em grandes eventos como a COP ou nas praças das grandes cidades, para dar espaço a uma narrativa diferente daquela dos países do hemisfério norte. Nesse sentido, foi lançado um apelo geral à ação, com o pedido de amplificar as vozes das pessoas mais afetadas, a fim de dar espaço às narrativas dos povos indígenas.

Val Munduruku

Um dos momentos de maior força emocional foi na fala de Val Munduruku, representante dos IPLC (Povos Indígenas e Comunidades Locais), que disse que as mulheres de seu povo não querem mais engravidar, pois sabem que seu bebê nascerá em um ambiente contaminado. Para dar uma nova esperança a ela e a outros povos, disse Val Munduruku, é fundamental lutar contra as minas, o desmatamento e a contaminação do meio ambiente.

Obviamente não faltaram referências à importância dos resultados das últimas eleições, Selma Dealdina, do povo Quilambola e representante do Movimento Negro, afirmou:

tiramos o Sr. Bolsonaro e isso é fundamental para respirarmos, é uma questão de liberdade. Agora é importante colocar o Brasil de volta na agenda global

Mas essa agenda precisa ser “escurecida” para dar importância a todos os povos, Selma diz, porque há muito tempo seu povo luta contra esses desafios na invisibilidade das agendas. Ao final de sua palestra, Selma afirmou que não é possível ver o futuro sem a proteção de seu território, inclusive de algumas das empresas patrocinadoras desta COP.

Em conclusão, as oradoras reuniram-se com a apresentadora para uma conclusão comum, uma declaração que contém as suas esperanças para o futuro:

“O futuro é feminino;

O futuro é compartilhado;

O futuro é etnicamente rico e diversificado;

O futuro é territorial;

O futuro é para o clima”.

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