Discurso da virilidade: um conjunto de personagens caóticos
Ser homem, ser mulher, não corresponde a características de uma masculinidade e feminilidade pré-estabelecida. Mas por que atribuímos virilidade ao que é masculino?
Por Reynaldo de Azevedo Gosmão
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A sociedade patriarcal nos coloca em um engodo de repertórios e narrativas muito empobrecidas, primeiramente por demandar que homens e mulheres respondam de lugares pré-estabelecidos, e de certa forma renuncie suas singularidades.
Ser homem, ser mulher, não corresponde a características de uma masculinidade e feminilidade pré-estabelecida, cada sujeito interpretará as marcas dos masculino e do feminino na sua constituição.
Como aponta Jacques Lacan, as identificações entre o masculino e o feminino são “não-todas”, ou seja, não há uma barreira em que se instala o campo da masculinidade e em um outro campo delimitado coisas do campo feminino, estas concepções de certa forma se misturam.
Por tanto, se analisarmos as diferentes culturas aquilo que reconhecemos como funções do masculino pode ser o oposto em outra cultura, ou tempo histórico.
Esta tentativa de rotulação, de colocar em quadradinhos, ou em outras formas geométricas, diz respeito a uma tentativa neurótica de sintetizar as diversas marcas que temos em condições de gênero.
Posto isso, se faz necessário desvincular a concepção de virilidade próxima da constituição do masculino. Como aponta a psicanalista e escritora Vera Ianconelli, “é igualmente bizarro sustentar a ideia de que mulheres não sejam exemplos de valentias, luta e força. Essas são qualidades humanas, não necessariamente masculinas ou femininas”.
Mas por que atribuímos a virilidade como características masculinas?
Não é possível responder esta questão se não pensarmos nas condições sócio-históricas que encapsulam homens e mulheres nesse emaranhado de vícios patriarcal, muitos homens que usam da agressividade e da virilidade esconde a própria fragilidade com o uso da violência.
Reconhecer essa condição na qual a virilidade e a violência são marcas desnecessárias para se fazer como homem é necessário, inclusive nos convoca a repudiar o conceito de estupro culposo, uma vez que é reforçar que homens ocupem esse lugar que diz que para ser homem tem que ser viril, violento, e ao mesmo tempo coloca a mulher mais uma vez no lugar de objetificação e suposto lugar de atender os desejos dos homens.
Marcius Melhem, André de Camargo Aranha, Robinho, Donald Trump são personagens caóticos que usam da violência e de um imaginário da virilidade para manter suas vontades acima de todos, sem se responsabilizar pelos riscos, pelos crimes que cometem contra mulheres e a própria democracia.
A sociedade precisa de forma efetiva através de meio jurídicos, institucionais e social dizer que “não vale tudo” para se fazer masculino no âmbito social.
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