Diário de bordo: ‘speaker’ em painel na Conferência do Clima da ONU

Eu estive na COP 27, em Sharm El Sheikh, no Egito, e fui convidada para palestrar em um painel sobre transição alimentar e mudanças climáticas no Pavilhão “Food 4 Climate” chamado “Young voices on the urgent need for food system transformation”, no qual fui a jovem que representou a América Latina. 

Por Livia Chaves Marcolin

Olá, eu sou Lívia Chaves Marcolin, sou ativista socioambiental da Fridays for Future Brasil, vegana e estive presente na COP 27, conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, no Egito. Vim contar para vocês um pouco da minha experiência como speaker em um painel sobre transição alimentar que aconteceu por lá.

Eu fui convidada para participar de um painel chamado “Vozes jovens na necessidade urgente de transformação de sistemas alimentares” como palestrante e representante da América Latina. O objetivo do evento foi reunir representantes de todo mundo para compreender as diferentes perspectivas no que se refere a sistemas alimentares e como nós estamos mudando esses sistemas implementando soluções em nossas regiões, apesar da falta de comprometimento dos tomadores de decisão, com o foco nas dietas baseadas em plantas como uma parte central da mitigação e adaptação das soluções relativas às mudanças climáticas.

Como na data e horário do painel eu não estava presente presencialmente na COP 27 –  eu estava no Cairo, minha participação foi telepresencial, mas ainda assim foi extremamente proveitosa. Pude falar um pouco da minha experiência e obter diversos aprendizados em conjunto com os demais painelistas. 

No painel, inicialmente, me foi perguntado por que uma mudança para dietas baseadas em plantas e sistemas alimentares sustentáveis é necessária para a minha região. Eu tenho uma dieta totalmente vegetal há cerca de três anos, e respondi a partir de dados científicos como, por exemplo, o fato de que o Brasil é um dos únicos países do mundo que chega a ter mais de 70% de suas emissões relacionadas à produção agropecuária aponta para a urgência da questão. Além disso, nosso país tem um grande problema de segurança alimentar –  problema que poderia ser solucionado com a ampliação do conhecimento sobre dietas baseadas em plantas, pois além de  reduzir nossas emissões, poderíamos  produzir alimentos em maior quantidade, com melhor qualidade e mais saudáveis, que teriam mais facilidade de alcançar todas as parcelas da nossa população.

Posteriormente, foram feitas diferentes perguntas para os demais painelistas, como, por exemplo, qual o tipo de progresso que se pode ver na Europa em termos de mudança dietética, e se nos países do leste também há bastante sofrimento quando se trata de sistemas alimentares. Também foi perguntado para a painelista indiana se na Índia esse tipo de problema também é enfrentado, e se já existem propostas de solução promovidas pelas juventudes. Foi interessante observar como os problemas enfrentados em regiões diferentes do mundo são similares no final das contas, porém é notório que os países do Sul global enfrentam esses problemas de uma forma mais intensa, e com maiores dificuldades. Também foram feitas perguntas relacionadas à existência de países que possuam governos que já estejam tomando decisões na direção da transformação dos sistemas alimentares, e qual o tipo de ação se espera desses governos para atingir segurança alimentar. 

Ficou bem claro que são poucos os governos que se atentam à necessidade dessa transição alimentar, e mesmo aqueles que tentam ser ativos com relação a isso, possuem uma enorme dificuldade por uma questão de mercado financeiro, e da quantidade de dinheiro que é movimentado no mercado de consumo de animais e seus derivados. Além disso, notei que todos os painelistas têm dificuldade de apontar a responsabilidade sobre essa pauta para seus governos e de convencer da necessidade dessa transição para que a gente consiga atingir de fato uma segurança alimentar ampla. Esse pensamento me pareceu ser comum a todos que participaram da mesa.

Esse painel me fez refletir sobre as intersecções que existem na dificuldade de modificar a forma como os sistemas funcionam. Apesar disso, consegui criar muitas conexões para que, juntas e juntos, a gente possa trabalhar para encontrar as soluções certas para modificar o funcionamento das coisas; isso gerou esperança em mim. Vamos fazer parte desse movimento para a mudança?

Lívia em frente a estande do pavilhão Food 4 Climate, durante a COP 27 / Acervo Pessoal

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