#DeParelheirosParaoMundo: a viagem de toda uma comunidade
Jovens gestores de biblioteca comunitária no extremo sul da megalópole paulista foram à Alemanha compartilhar experiências vividas em projeto
Bruninho Souza e Sidineia Chagas, colaboradores da AJN de São Paulo | Fotos: Bruninho Souza e Sidineia Chagas
Viagem é um tema empolgante para todos. Ela possibilita novas experiências, abre a mente para diversas culturas, dá a chance de aprendermos novas formas de encarar a vida e – de quebra – ainda permite que conheçamos lugares encantadores e significativos para a história da humanidade. Não é difícil entender por que viajar pelo mundo é um dos maiores sonhos das pessoas, principalmente dos jovens.
Quando um sonho de viagem é realizado, nos pegamos recapitulando toda nossa trajetória de vida desde a chegada ao aeroporto até o desembarque no destino desejado. Foi o que aconteceu conosco (Bruninho Souza, 21, e Sidineia Chagas, 24) em março deste ano. Somos gestores da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura e fomos convidados a viajar para a Alemanha a fim de compartilhar as experiências e as iniciativas desse projeto tão importante para a comunidade de Parelheiros.
A NOSSA CAMINHADA
Antes de contar como foi a viagem de uma semana para Berlim, vale a pena contarmos como foi o caminho que nos levou até essa experiência e de onde viemos. Parelheiros é um distrito localizado no extremo sul da cidade de São Paulo, coberto por reservas ambientais da Mata Atlântica e abriga a Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos. A região é habitada pelas aldeias indígenas Guarani Tenonde Porã e Krukutu e recepcionou a primeira imigração alemã no Estado de São Paulo, início do século XIX. Tem cara de cidadezinha do interior, mas é Sampa!
É neste cenário plural, através da promoção da leitura como um dos direitos humanos, que nós – jovens Escritureiros – estamos mudando a antiga realidade da região. A Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura – localizada no primeiro cemitério de São Paulo – é gerida por jovens de Parelheiros e atua como guardiã das histórias e lutas das comunidades que a cercam.
Uma dessas lutas nos colocou ainda mais perto da Alemanha. Há pouco mais de um ano, com o apoio do Consulado Geral da Alemanha em São Paulo, desenvolvemos o projeto Sementeiras de Direitos, voltado à criação e ao fortalecimento de uma rede de apoio e defesa dos direitos das mulheres.
A visita do casal Úrsula e Holger, parceiros do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – Ibeac – à biblioteca, diminuiu as distâncias. No aniversário da Úrsula, ela solicitou que o valor do presente fosse revertido para a nossa biblioteca, para a compra de livros e de outros materiais necessários ao desenvolvimento das ações. A contribuição ampliou o nosso acervo. A Biblioteca guarda mais de 4 mil obras, é palco de atividades culturais e promove Cortejos de Leitura, um projeto que usa a música para atrair pessoas para a literatura. (Clique na foto e confira a galeria de imagens)
Em Berlim, participamos de conversas no Ministério das Relações Exteriores e no Ministério Federal da Família, dos Idosos, da Mulher e da Juventude da Alemanha. Em 2015, tínhamos recebido a visita da Elke Ferner. Foi o momento de retribuir. Úrsula e Holger organizaram um grande encontro na Mercedes-Benz para cerca de 50 convidados entre amigos e representantes de empresas e instituições. Apresentamos para eles todos os projetos da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, contamos como é a interação dos jovens com o atual cenário político e mostramos que – apesar do ar de desesperança com a política partidária – enxergávamos práticas inovadoras de participação política e mobilização social acontecendo “nas quebradas”. Os jovens sempre como protagonistas desses movimentos!
Durante os encontros surgiram perguntas relacionadas à educação, política, saúde, transporte e Copa do Mundo de Futebol. Tentamos tornar nossas histórias mais próximas da realidade deles, mas ficou clara a sensação de abismo e distanciamento de experiências entre os países. Mas foi aí que utilizamos o que aprendemos com os livros: não existe uma história única sobre as pessoas e sobre as comunidades, às vezes nos prendemos a um conceito muito estreito sobre a felicidade e ela não pode ser conquistada individualmente, acreditamos em um conceito de felicidade coletiva, na qual podemos contribuir – independentemente de hemisfério ou continente. O território pode nos distanciar, mas a humanidade nos une!
Visitamos alguns pontos culturais e históricos de Berlim, onde fizemos um verdadeiro mergulho na história: passamos pela primeira e segunda Guerra Mundial, muro de Berlim, até chegar em questões contemporâneas, como os refugiados.
Percebemos que os jovens alemães engajam-se em questões próximas à realidade deles. Um dos projetos mais bacanas que conhecemos acontece em um prédio onde se concentram refugiados e iniciativas sociais. A ideia central de “O Refúgio” é envolver refugiados com os moradores, para integrá-los com a realidade da cidade. Também adoramos o fato de a cidade ter mais de dois mil pontos de tênis de mesa para estimular o esporte entre os cidadãos e proporcionar saúde para todos.
Uma das coisas que mais chamou nossa atenção foi como aquele povo sabe contar a própria história, como eles a preservam e como a identidade da cidade serve para que eles não repitam os erros passados. Conversando com alguns jovens de lá, percebemos que os turistas procuram o local para conhecerem as histórias das guerras enquanto os cidadãos de lá anseiam olhar também para o futuro.
É com esse aprendizado que voltamos para o Brasil: olhar para o passado e para o futuro e então construir o país que queremos.
Precisamos agradecer a todos que tornaram esta viagem possível: a Úrsula e Holger que patrocinaram a viagem, hospedagem, passeios, comidas, bebidas, farto café da manhã e ainda organizaram os encontros; ao Consulado da Alemanha em São Paulo que conseguiu espaço na agenda dos representantes dos ministérios; à Revista Viração que nos colocou em contato com o Paulão, que falou com Douglas, que falou com JP e Evelyn que nos ajudaram a falar com os alemães; agradecemos a todos os amigos que não nos deixaram congelar presenteando-nos e emprestando casacos, blusas, meias, gorros; agradecemos aos que compraram e fizeram presentes para presentearmos os novos amigos da Alemanha; agradecemos nossos parceiros da Biblioteca e do Ibeac que sobreviveram à nossa ausência e seguraram as pontas.
INFORMAÇÕES:
Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura
Endereço: Rua Sachio Nakao, 28 Colônia Paulista/Parelheiros
Email para contato: bccaminhosdaleitura@gmail.com
2 Comments
Viração sempre necessária para quem quer saber das coisas como elas são. Parabéns pela variedade e qualidade dos temas abordados.
Muito obrigada, Isabel! Continue acompanhando o nosso trabalho nas redes sociais: https://www.facebook.com/viracao.educomunicacao/?fref=ts