Crônica: Susto com o teste
Bruno Ferreira (SP), da Cobertura Jovem em São Paulo | Imagem: Guilherme Kardel, do Ministério da Saúde
Durante o Congresso de Prevenção, muitos se empolgaram com o espaço Fique Sabendo e, como boa parte dos participantes, resolvi fazer o teste de HIV, Sífilis e Hepatites Virais. Peguei a senha número 73. O stand do Centro de Referência e Treinamento estava cheio de gente aguardando para fazer o cadastro ou a coleta de sangue.
Apesar da certeza do resultado ser negativo para todos os testes, sabendo que nunca me expus a nenhuma situação de risco, quis viver a experiência. A profissional do CRT teve que furar três dedos, pois meu sangue, por mais que ela apertasse, mantinha-se tímido. Os estímulos não foram suficientes.
Mais de 50 minutos depois, tempo em que o resultado dos exames fica pronto, voltei ao stand tranquilo, na certeza de que tudo estaria bem.
“Senha 73, por favor”, disse eu à atendente que portava várias folhas em mãos.
Ao identificar os resultados dos meus exames, a moça retirou do meio da pilha de papel que carregava as folhas que constatariam a minha certeza. Mas ao ler as informações, antes de me entregar o resultado, me indicou para uma sala, com um gesto que me inspirou preocupação.
“Você, por favor, pode ir àquela sala?”, interrogou num tom que inicialmente me pareceu grave, mas tratava-se apenas de seriedade por parte da profissional.
Imediatamente, outro funcionário do CRT, já com meus exames em mãos, reforça o convite de dentro da sala. Fiquei assustado. “Por que eu precisava ficar a sós com um funcionário do Centro de Referência e Treinamento?”, pensei aflito.
“Tudo bem?”, pergunta de modo simpático o atendente de nome Reginaldo, ao fechar a porta.
“Você que vai me dizer. Algum problema?”, pergunto inquieto, imaginando ter algum tipo de hepatite ou algo mais sério que justificasse ser chamado numa sala para dialogar acerca do resultado de um exame feito tão rapidamente.
Percebendo o meu desespero, Reginaldo perguntou se eu já havia feito anteriormente algum teste de HIV. Na sequência da minha amedrontada negativa, o funcionário esclareceu, para o meu alívio:
“Fique tranquilo. É procedimento conversarmos com todos que fazem os testes para esclarecermos dúvidas. Eu nem vi o resultado dos seus exames.”
Respirei aliviado e Reginaldo começou a ler a interpretação do resultado dos exames, enquanto folheava o laudo: “Não reagente para HIV, não reagente para Sífilis, não reagente para hepatite B e não reagente para hepatite C”.
Ufa!
O funcionário me fez algumas perguntas e esclareceu dúvidas que ainda tinha sobre infecção e doenças sexualmente transmissíveis. A conversa intimista foi uma oportunidade para aprender e desmistificar questões ainda mal compreendidas por mim, e que certamente fazem parte dos questionamentos e achismos de jovens e adultos que, por vergonha ou descaso, não buscam fontes de informações confiáveis sobre sexo seguro.