CPI em Foco #05: personagens do ‘quebra-cabeça’

A CPI já entrou na fase de leitura do relatório final, e conhecer alguns personagens e os temas de seus depoimentos é essencial para encaixar as peças do quebra-cabeça dessa investigação.

Por Maria Eduarda Melo

A CPI da Covid 19 tem sido um dos assuntos políticos mais comentados de 2021. A comissão parlamentar investiga possíveis irregularidades do governo federal durante o enfrentamento à pandemia do coronavírus. Desde abril deste ano, políticos, agentes da saúde, empresários, e outras figuras foram escutadas pela comissão a fim de esclarecer os questionamentos das investigações. Na quinta parte da série CPI em Foco, vamos apresentar alguns dos personagens que participaram da CPI da covid e suas contribuições para o processo.

1. Luiz Henrique Mandetta

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Ministro da Saúde do governo Bolsonaro até abril de 2020, contou que o governo tentou a alteração da bula da cloroquina, medicamento este sem eficácia comprovada para combater o Coronavírus. Durante a sessão, mostrou uma carta que redigiu ao presidente da república pedindo que o governo mudasse as atitudes tomadas diante da pandemia, para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro. 

Falou também que o presidente recebia conselhos de “assessores paralelos”, entre eles o filho Carlos Bolsonaro (REPUBLICANOS), que o orientavam a utilizar o método da imunidade de rebanho.

2. Nelson Teich

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Ministro da Saúde durante 28 dias em 2020, o médico oncologista disse ter se demitido do cargo por conta do desejo do governo de aumentar o uso da cloroquina no combate à pandemia. Por defender o isolamento social, Teich se colocou contrário ao posicionamento do presidente Bolsonaro. Se mostrou também contra a imunidade de rebanho, algo que segundo estudo feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, o governo adotou como estratégia de imunização.

3. Marcelo Queiroga

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Quarto ministro do governo Bolsonaro, o médico é o atual chefe do Ministério da Saúde desde a saída de Eduardo Pazuello, em março deste ano.  Queiroga já prestou dois depoimentos à CPI da Covid, o primeiro no dia 06 de maio e o segundo um mês depois, 8 de junho. 

No primeiro depoimento os senadores o questionaram sobre o tratamento precoce, o ministro disse não ter autorizado a distribuição de cloroquina durante a sua gestão. Essa fala contradiz a “Capitã Cloroquina” (Mayra Pinheiro), secretária da gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, que confessou ter organizado uma missão para a distribuição do remédio no Amazonas. O ministro também se colocou contra a imunidade de rebanho.

Por conta das suas falas evasivas e algumas vezes não conclusivas, o ministro foi convocado pela segunda vez pela CPI. Neste depoimento Queiroga admitiu que a cloroquina é ineficaz contra a Covid-19, e mencionou também a recusa da presença da médica Luana Araújo na secretaria de enfrentamento à pandemia.  Disse que possui autonomia para conduzir o Ministério da Saúde e reforçou que todos os brasileiros devem respeitar as medidas de proteção sanitária. Continuou dizendo que o foco do momento deve ser a vacinação da população. 

4. Ernesto Araújo

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Ex-Ministro das Relações Exteriores, durante a pandemia escreveu em seu blog, de forma xenofóbica, que a China seria a responsável pela pandemia do Coronavírus, acusando o país de espalhar o “ComunaVirus”. A China, que é um dos principais parceiros econômicos do Brasil, começou a procurar fazer negócios com outros países. O Brasil então passou a encontrar dificuldades em comprar insumos e vacinas chinesas. Ernesto Araújo chegou também a acusar a senadora Kátia Abreu (PROGRESSISTAS) de fazer lobby para adquirir o 5G chinês. A parlamentar compareceu ao depoimento do ex-ministro representando a bancada feminina, e criticou duramente as atitudes de Ernesto Araújo.

Durante o depoimento falou que em nenhum momento ele fez qualquer declaração que pudesse ser considerada “Anti-China”, mesmo com os senadores apontando diversas situações em que isso ocorreu.

Araújo confirmou que, em certo momento da pandemia, estimulou diplomatas para garantir a compra da cloroquina para o Brasil. Questionado pelo senador Renan Calheiros (MDB), negou a existência de um assessoramento paralelo ao presidente.  

Também foi mostrado na CPI que o então ministro das relações exteriores do Brasil não agradeceu a Venezuela quando a mesma enviou ajuda durante a crise do oxigênio de Manaus. Tampouco procurou diálogo com os países que vendiam a vacina. 

5. Antonio Barra Torres

Edilson Rodrigues/Agência Senado

Diretor presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é contra a aglomeração e se diz contrário em relação ao uso da cloroquina para o tratamento precoce.  Confirmou que o governo tentou alterar a bula da Hidroxicloroquina e a pessoa a ter apresentado o documento para essa alteração foi a médica Nise Yamaguchi.

6. Luana Araújo

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Médica infectologista que fez parte da secretaria de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde. Essa participação, porém, foi breve, 10 dias apenas. A médica foi demitida por motivos desconhecidos. Durante o depoimento, Luana Araújo se mostrou a favor do isolamento social e crítica em relação ao tratamento precoce contra a Covid-19 com medicamentos que são cientificamente comprovados não serem eficazes.

7. Fábio Wajngarten

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Atual secretário-executivo do Ministério das Comunicações e anteriormente foi chefe da Secretaria Especial de Comunicação do Governo Federal (SECOM). Em abril deste ano, a revista Veja publicou uma entrevista com Wajngarten em que o ex-secretário confirmou ter participado ativamente nas negociações para a compra da vacina da Pfizer, mas que o Ministério da Saúde foi “incompetente”, resultando no atraso da compra.

Durante seu depoimento, Wajngarten deu respostas evasivas e entrou em contradição em vários momentos, irritando alguns dos senadores presentes, inclusive sendo ameaçado de receber um pedido de prisão ali mesmo, o que não foi feito.

Na sessão também foram assunto as campanhas da SECOM durante o período pandêmico, em destaque a campanha “O Brasil não pode parar”, que sugeria que os brasileiros se comportassem de maneira que não respeitasse as ordens técnicas do Ministério da Saúde.

8. Nise Yamaguchi

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Médica oncologista e imunologista. É uma das pessoas ditas como integrantes do Gabinete Paralelo. Defende o tratamento precoce e o uso da cloroquina contra o Coronavírus. Durante o depoimento falou que nunca debateu a imunidade de rebanho, na qual defende, com o presidente Bolsonaro.

Durante a sessão, a médica disse que a vacina não era a única solução para a pandemia, o que causou irritação de alguns senadores presentes, inclusive do presidente da comissão, Omar Aziz, que falou para que as pessoas não acreditassem nas palavras da infectologista. 

Outra questão discutida foi o pedido de alteração da bula da cloroquina, para que o medicamento pudesse ser usado no tratamento da Covid-19. Yamaguchi declarou não ter solicitado o pedido, contrariando a fala do diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres.

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