COP25: como podemos influenciar o processo de tomada de decisões?
Em entrevista, presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) fala sobre a atuação da sociedade civil na Convenção da ONU sobre as mudanças climáticas.
Por Ada Andreoni e Ana Sofia Marques Henriques – Agenzia di Stampa Giovanile.
No primeiro dia da COP25, o Pavilhão espanhol organizou um evento paralelo com o tema “Coordenação educacional internacional em face à emergência das alterações climáticas”. Nós entrevistamos um dos intervenientes, Joaquim Ramos Pinto, o presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), sobre o tema da educação e da participação da sociedade nos processos de tomada de decisões.

AJN – Ouvimos que os projetos de maior sucesso são de voluntariado. Quão envolvida está a comunidade local nestes projetos? E qual a importância destes no combate às mudanças climáticas?
Joaquim – Quando digo que parte dos projetos que consideramos terem mais sucesso acontece no contexto de uma sociedade que está desmobilizada – que tem muitas solicitações no nível das atividades culturais, desportivas, ocupações dos tempos livres e da atividade profissional. Isto quer dizer que o trabalho que temos de fazer para envolver as pessoas em ações de voluntariado tem de ser muito grande e vimos que no último ano houve uma grande adesão das pessoas. Anteriormente, víamos que as mesmas rapidamente estavam disponíveis para participar numa ação de voluntariado social e humanitária (campanhas de luta contra a fome ou pobreza, por exemplo) – mas a nível ambiental não tínhamos uma adesão grande. E é nesse sentido que eu digo que, no último ano, também porque há uma regularidade grande das atividades, a adesão tem sido maior. É uma aproximação, por um lado, à tomada de consciência dos problemas, saberem que estão fazendo algo e questionarem que atitudes podem tomar no dia a dia. São esses os objetivos do voluntariado ambiental e não a ação só por si, mas ajudar as pessoas a refletir sobre quais comportamentos diários têm de mudar. Os participantes destas atividades são normalmente pessoas da região em que a atividade acontece.
AJN – Como é que a sociedade civil pode participar na tomada de decisões na COP?
Joaquim – Há muitos eventos que estão acontecendo, nem conseguimos participar de todos. A sociedade civil pode fazer-se notar de várias maneiras – uma possibilidade seria criando lóbis, que são necessários nas organizações e se comunicarem com os decisores políticos. Por exemplo, vai acontecer uma reunião entre ministros para discutir os pontos fulcrais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e nós [ASPEA] estamos em contato com o secretariado da CPLP, com pessoas que estão ligadas ao ministério português e tentamos apresentar as nossas propostas e desafios. Nós temos que conhecer os canais que podemos usar para fazer chegar as nossas visões e propostas aos decisores políticos. Deve-se arranjar meios de comunicação para que as suas ideias cheguem aos decisores. Aqui existe um ponto muito a favor, visto que o Secretário-Geral das Nações Unidas reconhece o papel dos jovens e da sociedade civil para ajudar a resolver esta crise climática.
Outra forma da sociedade civil poder participar é através da mobilização, criando redes e dando voz a essa mobilização, aproximando-se dos órgãos de comunicação social (alguns dos quais presentes da COP) e apresentando as suas ideias. Outra forma, na COP, é organizar eventos – como o que aconteceu agora. A #EA26 é um movimento que aborda várias questões sociais (incluindo a área de educação ambiental) e todo dia 26 organiza uma ação pública sobre um dos temas debatidos ao longo do mês. Eles tiveram a oportunidade de trazer ao espaço da COP uma partilha das experiências das pessoas que estavam presentes com o apoio do Ministério do Ambiente de Espanha. Na quarta-feira passada, dia 4 de dezembro, houve uma outra ação, também com a sociedade civil, para lançar, a partir da COP, um processo de construção da estratégia nacional de educação ambiental.
Essas são formas de poder participar e de contribuir para as decisões políticas. Trazer para cá estes eventos colabora para que os políticos os reconheçam e os integrem nas suas políticas. Ou seja, as melhores alternativas, diante deste cenário são: chegar aos meios de comunicação social, chegar aos políticos e criar mobilização/sinergias, apresentando propostas concretas.