Conversa além dos muros

Por Carlos Eduardo, Igor Bueno e Victoria Sátiro, da Agencia Jovem de Notícias.
Fotografia de Ingrid Evangelista, da redação.

 

Nesta quinta-feira (03), a Comissária Interamericana de Direitos Humanos da OEA, Rosa Maria Ortiz, esteve na cidade de  São Paulo, em Missão Oficial, coletando informações para elaborar seu relatório sobre Crianças vivendo em Zona de Conflito Armado no Brasil. Pela manhã a Comissária se reuniu com coletivos e ONGs que trabalham com temas relacionados à infância, e à tarde com as próprias crianças e adolescentes. Durante o encontro, relatos emocionantes sobre a realidade vivida por muitos dos presentes. Confira:

Os medos da juventude pobre não cabem nos dedos; os jovens convivem com a morte lado a lado, pois nunca sabem quando vão ser atingidos por uma bala da polícia ou dos bandidos. Os adolescentes, emocionados, relataram, que não vivem e sim sobrevivem, nesse sistema que os impede de sonhar e de lutar.

O debate se prolongou com uma discussão muito ampla que persegue muitos adolescentes no Brasil: a realidade dos problemas do alcoolismo, do crack e de outras drogas nas comunidades e meios sociais em que convivem grande parte deles. Relatos confrontaram o atual governo de São Paulo, referindo-se à grande ação que criminaliza a juventude, o modo como os usuários de drogas são tratados. Medidas de internação compulsória, contra os usuários de crack foram apontadas como equivocadas e o consumo de drogas foi apontado como um triste recurso de ‘inclusão social’ nas rodinhas de amigos, para fugir da realidade ou simplesmente tentar viver além do ‘’sobreviver ‘’.

A relatora questionou os meninos e meninas presentes sobre a diferença em ser homem ou mulher em nossa sociedade, e é claro que diante de uma pergunta tão obvia, @s jovens responderam sem papas na língua. Abordaram questões como o espaço restrito e a falta de incentivo para as jovens mulheres no esporte, a falta de segurança, os abusos que foram cometidos nos protestos e os abusos que são cometidos todos os dias pela Policia Militar nas escolas públicas.  Não restaram dúvidas para Rosa Maria Ortizque nossa sociedade ainda produz e incentiva a cultura machista, a qual estamos inseridos.

Um dos interesses da pesquisadora era sobre como nós nos divertíamos. A resposta: adolescentes e jovens das zonas periféricas acabam por serem vítimas da falsa diversão, que não alcança suas verdadeiras perspectivas, pois, ao menos que tenham o espaço e os objetos que são promovidos pela grande mídia, não estarão satisfeitos. Então em meio às lágrimas, o que resta é um sorriso amarelo e a tentativa de felicidade com o pouco que se tem.

A partir dessa realidade triste, adolescentes e jovens optaram por não seguir o sistema e definhar no gira gira dos horrores. Preferiram fazer a mudança e promover as artes e a cultura marginal, diga-se de passagem, muito mais realistas e enraizadas nos pobres do que as elitizadas. Com o ato de resistência cultural, do berço aos cabelos brancos, começou a clarear ao menos um pouco as noites eternas, e uma verdadeira representação do gueto foi formada. A felicidade pôde ser apreciada, não como utopia, mas sim como realidade, ao menos pelo tempo em que o hip hop, rap, capoeira, funk e a cultura afro, principalmente, estavam presentes nos espaços culturais feitos pelas comunidades para as comunidades.

Depois da conversa com a relatora, os meninos e as meninas demostraram uma forte vontade de mudar a sua realidade e, sobretudo, a esperança em um futuro melhor. Quando perguntamos para Paloma Oliveira de 12 anos, da Zona Sul, qual foi a importância de ter um espaço para relatar o que acontece diariamente em sua comunidade, ela nos respondeu que espera que depois desse diálogo sejam tomadas providências para melhorar as condições de vida da juventude. A coordenadora do projeto “Fé e Alegria”, Luciana Lorenzi, diz que os bons movimentos sociais são ferramentas essenciais para reverter a situação atual na qual o jovem se encontra.

 

 

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