Especialistas e ativistas discutem educação e cultura juvenil, na América Latina

O primeiro painel do Seminário sobre Ensino Médio na América Latina e Caribe, que acontece em Bogotá nos dias 29 a 31, discutiu ‘Contexto regional: culturas juvenis e demandas estudantis”. Participaram do debate Sérgio Balardini, da FaculdaLatino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), da Argentina; Cales Feixa, da Univesidade de Lleida, na Espanha e a estudante da Associação de Estudantes Secundaristas (ANDES), da Colômbia.

Balardini trouxe dados importantes a cerca da realidade da educação na América Latina, sobre os avanços e os desafios que devem ser enfrentados na região. O panorama apresentado revela também as profundas desigualdades existentes entre os países e, até mesmo no interior deles, com variações importantes entre regiões urbanas e rurais, por exemplo. É o caso do índice de analfabetismo. Os dados gerais indicam que 3% dos adolescentes da região ainda não estão alfabetizados, mas esse número pode chegar a 10% em alguns países e em 50% em municípios, no interior deles.

Nos últimos anos, a região teve uma acensão importante do acesso ao ensino médio. Em determinados países cerca de 80% dos adolescentes e jovens cumpriram essa etapa escolar. No entanto, a desigualdade latente também se revela aqui. Em outros, especialmente na América Central, esse número cai para 20%.

Balardini observa que o acesso ao ensino médio, segue o mesmo padrão das desigualdades sociais existentes, alcançando prioritariamente populações dos centros urbanos e de classe média. Estando, portanto, a população empobrecida, negra, indígena e/ou do meio rural, com maiores dificuldades de acessar essa etapa da formação escolar.

Além disso, a conciliação dos estudos com a jornada de trabalho é uma realidade com a qual convive boa parte dos estudantes. No Brasil, por exemplo mais de 27% dos meninos e 19% das meninas, trabalham e estudam. É uma das taxas mais altas da região, atrás apenas do Peru, da Bolívia e do Paraguai. Esse dado implica, especialmente, na permanência dos jovens no ensino médio. Segundo Balardini, grande parte dos jovens que interrompem os estudos alegam motivos de trabalho.

Mas o pesquisador chama a atenção para um outro motivo: O desinteresse ainda é uma das principais causas do abandono escolar. Seria preciso, portanto, alinhar a realidade escolar com as expectativas dos jovens. Para ele, estão colocadas algumas agendas importantes para a educação na América Latina, entre elas o aprofundamento da democratização, garantindo acesso e real qualidade. A promoção de espaços de diálogo e participação e a integração do mundo escolar com as culturas juvenis.

Escola e cultura juveniil

A relação entre a cultura juvenil e o universo escolar foi o tema abordado pelo antropólogo Carles Feixa. Para ele, a escola olha a cultura juvenil com medo e suspeita e os jovens, por sua vez, a encaram com hostilidade e rejeição. Ele comparou esse relacionamento a um matrimônio mal sucedido, onde se leva a vida a discutir, mas sem atrever-se a divorciar.

Feixa lembrou que essa é a primeira geração educada na era digital. Os jovens convivem com uma infinidade de informações, com novas fontes de conhecimento e com uma aprendizagem não linear e sequencial. Esse novo cenário experimentado pelos jovens contrasta com a vida numa escola que segue com a mesma estrutura pedagógica e curricular há décadas.

“Como a escola se adaptará a cultura digital e de que forma acolherá as manifestações da cultura juvenil como elemento de criatividade?” Para Feixe essas são algumas das questões fundamentais a serem levadas em conta no redesenho do sistema educativo.

A escola não responde aos interesses dos jovens. Reproduz práticas religiosas, autoritárias e verticais”. É assim que se sente a estudante secundarista Dayse Aparicio, para quem o atual modelo de educação não leva em conta as múltiplas experiências e necessidades dos jovens. Para ela a escola deve se articular com as questões do esporte, da cultura, da sexualidade, de gênero, da vida enfim.

Dayse alertou para a urgência da construção de um novo modelo de escola, que considere as diversas formas de ser jovem. Para isso aposta na articulação entre os movimentos estudantis, professores, diretores, pais e todo o conjunto de atores comprometidos com a garantia do direito à educação e com as mudanças necessárias no sistema educativo. “Pensamos numa educação voltada para a autonomia, para a liberdade e para a transformação social”, concluiu.

Sobre o evento

O Seminário é uma iniciativa da Campanha Latino Americana pelo Direito à Educação e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em parceria com o Instituto Internacional de Planejamento da Educação Unesco/Buenos Aires, a Oficina da Unesco em Santiago (Chile), a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura e a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). A Coalização Colombiana pelo Direito a Educação será a anfitriã do evento.

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