Como o jornalismo cultural pode se reinventar?
Em último dia do seminário “Jornalismo, as novas configurações do quarto poder”, debate levanta propostas para aproximar o público das notícias sobre cultura.
Por Larissa Costa Mendes
Pela manhã desta sexta-feira (17), ocorreu o debate “Cultura além do serviço: qual o espaço do jornalismo cultural nos dias de hoje?”, com a presença das jornalistas Claudia Assef, do Portal Music Non Stop, Laura Capriglione, do Jornalistas Livres e Patricia Kolesnicov, do jornal argentino Clarín.
A mediação foi feita por Helio Goldsztejn, diretor do Metrópolis, da TV Cultura, que iniciou a discussão lembrando o falecimento da cantora Aretha Franklin, considerada a rainha do Soul, e provocou as jornalistas sobre como o jornalismo cultural, muitas vezes, se pauta por obituários, “é necessário morrer para a arte virar manchete?”, ironizou. Esta dúvida surgiu porque é muito comum ter notícias de cultura quando há falecimentos de artistas, mas nem sempre o próprio trabalho desses artistas ganha destaque.
As jornalistas reconheceram que matérias de cultura têm bem menos visibilidade que outras áreas, e que isso tem influência no modo dos brasileiros de consumirem cultura. O próprio Hélio destacou que um a cada quatro paulistanos não frequentam nenhuma atividade cultural.
Segundo dados do IBOPE 2017, o principal fator para este cenário é a questão econômica. A pesquisa mostra que quem ganha acima de cinco salários mínimos frequenta mais atividades culturais. Os entrevistados frequentaram cerca de seis atividades culturais até três meses antes da pesquisa, enquanto quem recebe até dois salários mínimos não participou de nenhuma nos três meses anteriores à pesquisa.
Laura Capriglione também falou sobre o quanto a cultura é elitizada e trata outras formas de expressão com preconceito e rejeição. Ela citou o jornal a Folha de S. Paulo, no qual trabalhou, como um dos veículos que tratavam o funk pelo viés da criminalização. “Quando começaram os rolezinhos, e os rolezinhos foram um dos maiores fakenews, a grande imprensa tratou o funk como um lugar de consumo, estupro, drogas, prostituição. Eram meninos querendo se divertir. E como em qualquer lugar com meninos querendo se divertir, tinha drogas e tinha sexo. […] A grande imprensa tratou o funk como um movimento de bandidos. Aí você vai querer que o caderno de cultura seja respeitado?”, comentou.
Jornalismo e conteúdo para as marcas
Para Claudia, o jornalismo tem um bom conteúdo, mas precisa melhorar na entrega, ou seja, no formato como envolve o público. Segundo ela, uma boa estratégia é aprender com os blogueiros: “Muitas vezes, a blogueira de moda fez uma foto, levou uma lente para o celular dela, então ela criou uma produção cinematográfica para um post. O formato é muito atraente e fisga muito essa audiência que tem tão pouco tempo, que se informa através de timeline, se forma através do instagram”.
Em entrevista exclusiva para a Agência Jovem de Notícias, Claudia também destacou o branded content, ou seja, conteúdo patrocinado, como uma alternativa para o jornalismo cultural alcançar mais o público. “Cabe a nós jornalistas criarmos conteúdos interessantes para propor para essa marca, pensando em como apresentar novidades, aguçar a curiosidade daquela comunidade com conteúdos relevantes. Isso é um exercício que tem que ser feito por nós [jornalistas] e a gente tem as ferramentas.”
Ela também citou algumas marcas com as quais trabalhou com produção de conteúdo patrocinado, entre eles para a Red Bull. “Também já fiz muito trabalho para eles da Red Bull. Já fiz coberturas internacionais, acompanhando as movimentações culturais que eles fazem e a cada momento eu falo Red Bull Music Academy, eu estou contando a história daquele projeto e sempre citando a marca. A Red Bull é muito inteligente nesse sentido. Eles sempre trabalharam com branded content, sempre trabalharam com conteúdos proprietários onde havia muito conteúdo. Isso há vinte anos atrás ou mais”, lembra Claudia.
No dia anterior a esta palestra, uma das mesas do seminário “Jornalismo, as novas configurações do quarto poder”, debateu justamente a relação do jornalismo e do marketing. Nossa reportagem conversou com uma das participantes do debate, a jornalista Cleusa Turra, para saber mais sobre a relação entre o jornalismo e o conteúdo patrocinado, clique aqui.