Como celebrar a vida num planeta que beira a morte?
Para ter sustentabilidade a longo prazo, no ativismo ambiental é necessário respirar fundo e contemplar a vida. Que tal começar agora, celebrando o Dia da Terra com pensamento crítico e um chamado para a ação?
Por Amanda da Cruz Costa
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Oláaaa, meu bolinho de abóbora com cream cheese vegano 🙂 Você sabia que hoje é comemorado o Dia Mundial do Planeta Terra?Essa data tem o objetivo de representar a luta em defesa do meio ambiente e dos povos tradicionais.
Esse ano, diversos eventos estão sendo organizados (confira no mapa), mas o movimento teve início em 1969, com o senador e ambientalista estadunidense Gaylord Nelson.

Nelson tinha o intuito de chamar a atenção para a proteção do planeta e ampliou seu ativismo após a tragédia ambiental causada por um derramamento de óleo em Santa Barbara, na Califórnia (1969). Sua mobilização conseguiu levar 20 milhões de pessoas às ruas de Washington, por meio da articulação com duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e centenas de comunidades que organizaram protestos, palestras e debates.
A galera ahazou e a mobilização deu super certo! A pressão social fez com que o governo dos EUA criassem uma Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) e uma série de leis destinadas à proteção do meio ambiente.
Seguindo essa vibe, no dia 22 de abril de 2009 a Assembleia Geral da ONU instituiu o Dia Internacional da Mãe Terra. Essa data foi criada para incentivar nações, órgãos da ONU, sociedade civil, organizações não governamentais (ONGs) e demais entidades a desenvolver consciência sobre a importância da preservação dos recursos naturais.

Mas apesar da articulação mundial, pouco se tem feito para garantir a proteção do planeta. De acordo com a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (da sigla em inglês UNFCCC -United Nations Framework Convention on Climate Change), é necessário cortar drasticamente as emissões de gases de efeito estufa para assegurar a vida na Terra: cerca de 45% até 2030!
Querido leitor, você acha que as atuais dinâmicas sociais, ambientais e econômicas possibilitam a transição para uma economia de baixo carbono?

Recentemente li o livro A vida não é útil, doAilton Krenak e fiquei beeeem reflexiva. Diversos pensamentos borbulharam em minha mente e inquietaram a minha alma, me levando para um lugar profundo de questionamento e contestação. Krenak conseguiu apresentar uma visão contra-hegemônica com simplicidade, sensibilidade e assertividade e eu separei alguns pontos para dividir com você. Bora? 🙂
Muitos povos, de diferentes matrizes culturais, têm a compreensão de que nós somos a terra, somos uma mesma entidade, respiramos e sonhamos com ela. Alguns atribuem a esse organismo a mesma suscetibilidade do nosso corpo: dizem que esse organismo está com febre.
Ailton Krenak
Estamos vivendo diversos desafios: a evolução da pandemia causada pela COVID-19, a ascensão de governos de extrema direita e o próprio aquecimento global, que evoluiu para uma crise climática que ameaça destruir o equilíbrio dos ecossistemas da Terra.
E tudo isso a troco do quê? Dinheiro, fama, bens materiais, modernidade, poder… A humanidade vive num cemitério urbano, dopada pori uma realidade nefasta de consumo e entretenimento.
A Terra grita por socorro! As geleiras derretem, os oceanos são sufocados pelo plástico, as cidades estão cheias de lixo, o número de espécies em extinção aumenta. Mas sabe o que realmente está matando o nosso planeta? A indiferença de grande parte da população perante a tragédia global desencadeada pelo sistema capitalista.
Quando o último peixe estiver nas águas e a última árvore for removida da terra, só então o homem perceberá que ele não é capaz de comer dinheiro.
Vernon Foster

Confesso que tenho saudades dos tempos de criança, das memórias em que a minha única preocupação era cantar, dançar, brincar. O cotidiano era uma extensão dos sonhos e a minha juventude foi marcada pela diversão, fantasia e esperança. Mas agora o planeta está em chamas, o futuro está queimando e os sonhos são incinerados pelos interesses da classe dominante.
É uma distopia: em vez de imaginar mundos, a gente os consome. Depois que comermos a Terra, vamos comer a Lua, Marte e os outros planetas.
Ailton Krenak

Em todo esse rolê, o combustível fóssil é um dos grandes vilões. Ele já deveria ter sido banido na década de 1990, quando diversos relatórios apontaram seus efeitos negativos para o planeta. Contudo, o número de produtos fabricados a partir do petróleo aumentou drasticamente, fazendo com que a humanidade caminhasse de forma alienada rumo à auto-extinção!
Essa auto-extinção é contextualizada por David Wallace-Wells, em seu livro A Terra Inabitável. De acordo com o autor, todas as tentativas do mundo de regular o consumo, a produção e a distribuição de mercadorias são insustentáveis! Desse modo, não basta apenas celebrar o Dia da Terra, mas é preciso proteger a biodiversidade, escutar os povos tradicionais (caiçaras, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e aborígenes) e mudar as nossas atitudes individuais, coletivas e políticas!

Apesar desse cenário caótico, quero te perguntar: você consegue desfrutar o planeta Terra?
vida não tem utilidade nenhuma. A vida é tão maravilhosa que a nossa mente tenta dar utilidade a ela, mas isso é uma besteira. A vida é fruição, é uma dança cósmica, e a gente quer reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária.
Ailton Krenak
O sistema patriarcal capitalista de supremacia branca nos fez acreditar que o trabalho é a razão da existência humana. O homem branco escravizou tanto os outros, que agora escraviza a si mesmo, preso numa rotina insana de produção e consumo.
Querido leitor, o mundo está esquisitaço, eu sei! Todavia, para ter sustentabilidade a longo prazo, no ativismo ambiental é necessário respirar fundo e contemplar a vida. Que tal começar agora, celebrando o Dia da Terra com pensamento crítico e um chamado para a ação?

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