Carolina Maria de Jesus na sala de visitas: assine o manifesto

Ação de coletivos culturais, artistas locais e articuladores sociais reivindica a instalação da estátua da escritora na Praça Central de Parelheiros; entenda a disputa e apoie

Com informações de Luara Angélica

A boa notícia:

A prefeitura de São Paulo, após reivindicações de diversos grupos sociais – principalmente depois do incêndio da estátua Borba Gato, planeja instalar 5 estátuas pela cidade, para homenagear artistas negros, entre eles Carolina Maria de Jesus.

O apagamento que se repete:

no projeto, a estátua de Carolina deve ser instalada no Parque Linear de Parelheiros – um local pouco movimentado, de difícil acesso e com pouca visibilidade e que com certeza trará dificuldades inclusive em relação à preservação da obra.

Para dar o devido destaque à homenagem, coletivos culturais, artistas locais e articuladores sociais do território de Parelheiros se uniram à Vera Eunice de Jesus e outros familiares de Carolina mobilizam-se para reivindicar que a estátua seja colocada na Praça Central de Parelheiros (Júlio César de Campos), no Centro de Parelheiros, além da participação de atores locais no planejamento e na realização das atividades de inauguração da obra.

Estas pessoas, que entendem a importância da obra e da trajetória de Carolina reivindicam a alteração do local onde será instalado o monumento também em apoio ao desejo de Vera Eunice, que afirma:

Fazemos questão que seja em Parelheiros! Minha mãe amava Parelheiros, aqui foi feliz, se benzeu e benzeu esse chão, participava das festas tradicionais, ia ao cinema mudo e entregou o meu diploma na Escola Prisciliana

Carolina Maria de Jesus. Reprodução Prefeitura de São Paulo

O manifesto, que foi lançado no último sábado, 19 de fevereiro, traz argumentação contundente para a proposta de mudança do local do monumento, fundamentada na relação da comunidade com o território e na historiografia:

O Parque Linear que foi o local escolhido para a escultura, tem sim a sua importância para o bairro, mas não é um local movimentado e nem de grande visibilidade, o que dificultaria inclusive a preservação da obra perante atos de depredação. Entendemos que mais uma vez Carolina estaria sendo instalada no “quarto de despejo”, e mesmo diante do descontentamento dos familiares ao serem informados sobre o local, não aceitamos nenhum motivo para que a escultura não seja instalada na Praça Júlio César de Campos, local onde está a Paróquia de Santa Cruz e o monumento de marco do centenário da Paróquia; que fica na região central de Parelheiros, importante ponto turístico e histórico dentro do Polo de Ecoturismo de SP e que por muito tempo foi o palco de festas tradicionais da região (como por exemplo, a Festa de Santa Cruz e de aniversário do bairro). A Praça Júlio César de Campos também é um local cercado por comércios e têm grande circulação de pessoas, já que é o ponto de acesso para os bairros adjacentes, tanto no sentido da Cratera da Colônia, como do distrito de Marsilac, e do município de Embu Guaçu, cidade onde Carolina foi sepultada; e também está próximo a Casa de Cultura de Parelheiros.

O racismo estrutural, produz o apagamento da história negra no processo de construção das cidades. Em São Paulo, temos apenas 3% de esculturas e monumentos dedicados a homenagear a cultura ou personalidades negras e, dentre elas, somente uma, representa a mulher negra – “Mãe Preta” (ama de leite) no Centro de São Paulo. Historicamente, a presença negra no espaço público é estigmatizada e marcada por sub-representação.

No distrito de Parelheiros, extremo Sul de São Paulo, não há esculturas ou monumentos e, diante da historiografia local, que minimiza a presença negra, a escultura de Carolina Maria de Jesus, rememora e afirma patrimônio e identidade negra no distrito.

Em tempos de abandono e fome, a imagem e obra de Carolina produz representatividade e evidencia as principais necessidades do povo. Além disso, memória, identidade e patrimônio caminham juntos, estamos neste momento fazendo história, isto significa que, o processo de curadoria da instalação da escultura é um registro do Brasil que temos e da salvaguarda da Literatura brasileira. Não podemos permitir que o primeiro monumento em homenagem à Carolina NO MUNDO, não esteja em sua devida visibilidade.” 

O texto na íntegra está disponível em formulário de coleta de assinaturas que pode ser acessado abaixo:

Maria Carolina de Jesus. Arte: Girafa não fala / reprodução site do Itaú Cultural

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