Ativista é a última de sua rua a resistir à construção da usina de Belo Monte
Sabrina Mesquita do Nascimento, de Altamira (PA)
Reconhecida no Brasil e no mundo por sua luta contra as barragens no Xingu, a ativista Antônia Melo está sendo mais uma das grandes vítimas da hidrelétrica de Belo Monte. Uma mulher que escapou da morte numa terra em que foram assassinados líderes como Dema e irmã Dorothy teve agora sua vida desafiada por uma remoção forçada, provocada pela construção de Belo Monte.
Antônia recebeu diversas notificações para sair e a data final estipulada pela Norte Energia era terça-feira (08/09). Como ainda não havia encontrado outro lugar para se mudar, a líder do Movimento Xingu Vivo disse à empresa que somente hoje (11/09) deixaria a sua casa. A casa da Melo e de mais dois vizinhos eram as únicas inteiras da Rua Sete de Setembro, Bairro Centro, área do Açaizal, em Altamira. As demolições do entorno atingiram a fiação elétrica e ela ficou sem energia por dias em sua casa.
Ela olha com amor suas árvores, plantadas uma a uma por ela mesma. E a condição que ela havia estabelecido a si mesma é que sua nova morada possuísse alguma área para ela plantar. Infelizmente não deu. As casas que ela pesquisou eram todas cimentadas do inicio ao fim do terreno e ela disse que, mesmo assim, vai quebrar as lajotas para poder “recriar” minimamente o lugar onde viveu praticamente a vida inteira desde que chegou no Xingu com a família, vinda do Piauí nos anos 50. Eles fugiam da seca.
Ela conta que lutou muito por aquela rua, ainda jovem, para que as pessoas tivessem o mínimo de condições de sobreviver ali. Foi naquela rua, ela conta, que se iniciou sua militância contra as opressões sofridas pelos mais frágeis. Ali, uma historia de luta é revirada em meio aos escombros e arrastada pelos tratores do desenvolvimento. Ali, naquela casa, onde pistoleiros foram à sua porta ameaçá-la de morte. E, guardando toda a solidariedade que lhe é própria, fez questão de ser a última a deixar sua casa, para esperar a saída de seus últimos vizinhos.
Antônia acredita que só a sua presença asseguraria que os tratores não iriam passar por cima das casas restantes sem nenhum respeito à vida e à história daquelas pessoas, seus vizinhos. Naquela rua em que foi uma das três primeiras moradoras, ficou até o último suspiro. Essa é Antônia Melo. E essa é a hidrelétrica de Belo Monte, que deu seu golpe mais simbólico e mais poderoso, tirando essa mulher de sua casa. Mas eu lamento informar à Norte Energia: a Antônia Melo mandou avisar que não vai parar de resistir. Nunca.