Antonieta de Barros: a Primeira Deputada Negra do Brasil 

Do magistério à presidência da Assembleia Legislativa, sua trajetória foi marcada pelo pioneirismo educacional e político.

Por Gustavo Souza, da redação.

Antonieta de Barros nasceu em Julho de 1901, na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina. Na sua certidão de nascimento consta apenas o nome de sua mãe, Catarina Waltrich. Ela também tinha duas irmãs, Maria e Leonor. Ao longo dos anos, Antonieta abandona o sobrenome ‘Waltrich’ e passa a assumir o ’Barros’. 

Catharina criou suas filhas sozinha, enquanto trabalhava como lavadeira e empregada na casa da Família Ramos – uma família de grande influência política na região. Ela também acreditava que o maior bem que os filhos poderiam adquirir era a Educação e, com sua bravura e persistência, conseguiu formar suas filhas no magistério, uma verdadeira conquista nos tempos difíceis em que viviam.

Antonieta começou a estudar aos 5 anos em uma escola particular, com a ajuda da família para quem sua mãe trabalhava. Contudo,depois de um tempo seguiu seus estudos em escola pública, concluindo o  Ensino Básico aos 20 anos. Na mesma época ela abriu , em sua própria casa, uma instituição de educação, com o “Curso Particular de Antonieta e Barros”. Seu principal objetivo com esta ação era alfabetizar a população em situação de vulnerabilidade social da cidade. No entanto, até a elite de Florianópolis passou a procurá-la para participar do curso – demonstrando o quanto Antonieta era uma excelente professora.

Ela exerceu o magistério como professora de Português e Literatura durante toda a vida e, em 1945, foi nomeada como diretora do instituição de educação de Florianópolis, onde ocupou o cargo até a sua aposentadoria. Para Antonieta, a educação era um caminho de libertação e ascensão social para as mulheres. Por conta disso, a escrita foi o caminho para que a educadora pudesse  expressar suas idéias e se aproximar da política.

Fundou o jornal “A Semana”, publicação onde escrevia sobre educação, representatividade das mulheres e fazia críticas às medidas do governo da época. Foi neste espaço que Antonieta mostra sua eloquência e os saberes que adquiriu na sua formação. O jornalismo foi uma porta para que ela pudesse lutar pelos direitos das mulheres numa época em que o tema não era nem discutido. Além de escrever para o “A Semana”, durante mais de 20 anos, também contribuiu  com matérias para jornais da capital e de todo o estado de Santa Catarina.

Estimulada pela Família Ramos, Antonieta participou das eleições de 1935 como candidata  ao cargo de deputada estadual pelo Partido Liberal Catarinense (PLC). A campanha do partido fez de Antonieta uma representante das mulheres catarinenses e ela foi ELEITA a primeira deputada estadual negra de Santa Catarina e do Brasil. Avisa que é ela, gente!

Antonieta de Barros foi reconhecida como a primeira mulher negra a assumir um mandato popular. Seus principais programas foram “Educação para Todos”, valorização da cultura negra e emancipação feminina. Vale lembrar que isso aconteceu dois anos após a conquista do direito do voto feminino, em 1932, e um ano após a Constituição de 1934, que permitiu que pessoas analfabetas e negras exercessem o direito ao voto. O assunto repercutiu tanto que saiu até no jornal “The New York Times”. 

Referência de luta, ela acreditava firmemente que a invisibilidade da mulher na política não era normal, mas sim fruto do autoritarismo e do machismo presentes nas estruturas que sustentam a nossa sociedade até hoje. Em Julho de 1937, Antonieta se torna a primeira brasileira a assumir a presidência de uma Assembleia Legislativa e, com isso, trouxe diversas ações para serem pautadas pelos políticos do legislativo.  Essa mulher foi e é incrível, né? Rainha faz assim mesmo: impacta a sua geração e deixa seu legado às gerações futuras. Muito prazer, essa é a incrível Antonieta de Barros!

Julho das Pretas

No dia 25 de julho é comemorado o dia da mulher negra latino-americana e caribenha, intitulado em 1992, com o foco de dar visibilidade à luta de mulheres negras contra a opressão de gênero, exploração e racismo. No Brasil, a data homenageia a lider quilombola Tereza de Benguela, simbolo de luta e resistência do povo negro. Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê e o liderou por décadas, ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.

Agência Jovem de Notícias + U-Report Brasil

Este texto faz parte de uma série especial de conteúdos, desenvolvidos em parceria entre a Agência Jovem de Notícias e o U-Report Brasil, para celebrar o Julho das Pretas. Além de uma série de textos, foi desenvolvido um quiz sobre mulheres negras brasileiras que marcaram a nossa história!

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