A Revolução dos Bichos 

A Revolução dos Bichos é um dos livros mais significativos já feitos, sendo escrito por George Orwell e publicado em 1945, a obra, conta com mais de 120 traduções e ganhou destaque por trazer questões da realidade de uma forma distópica, usando animais como personagens. Em alguns países o livro foi banido justamente por seus líderes não aceitarem que o povo tivessem as reflexões propostas por ele.

Por Gustavo Souza

Nunca imaginei que um livro de 125 páginas poderia abranger tantos assuntos e ser mais complexo que a própria complexidade. A Revolução dos Bichos é um livro daqueles que você inicia a leitura e automaticamente sente que já viu aquilo em algum lugar, e o ponto a chave inicial da obra é você perceber mesmo que já viu, pois é um simples retrato da própria vida e sociedade que vivemos… você pode ter certeza: porcos, cavalos e cachorros te farão refletir e muito sobre nossa história.

O enredo apresenta uma fazenda onde os animais estão cansados de serem explorados por seu dono, o Sr. Jones, e iniciam uma revolução para se tornarem seus próprios senhores e terem um espaço em que o comando seja deles mesmos. Em teoria, eles acreditam que assim todos os animais poderiam ser iguais, tese que vemos sendo disseminada no mundo real em filosofias socialistas. Porém, durante o desenrolar da história, três pontos se destacam:

  • Nenhuma aliança é constituída sem nenhum interesse.
  • A força física sem consciência de classe não serve pra nada.
  • Ninguém é “camarada” o bastante para não se corromper.

Com apenas com essas três frases conseguimos identificar que, na história daqueles animais, o sistema igualitário não foi alcançado.

Confesso que pra minha melhor compreensão do livro, eu fazia o comparativo dos personagens com pessoas que conheço e passei a ver que nada que estava lendo fugia da minha realidade. Outra dica que dou é ler o livro em transportes públicos: ler sobre a exaustão e a precariedade na ficção e olhar ao seu redor, ver que aquilo é uma representação da sua vida, lhe mostrará qual sistema você está sendo imposto.

Entre diversos animais que foram apresentados, quero destacar dois: O porco Napoleão e o cavalo Sansão. Napoleão é um porco que age através dos seus interesses e bem estar. Para isso, ele mata, suborna e desfaz princípios que ele mesmo criou. Em meu último diálogo com meus amigos sobre a trama, minha percepção sobre ele mudou ao ouvir a frase: “Quando o ambiente não é libertador, o oprimido se torna opressor”, famosa citação de Paulo Freire. E realmente, quando você vive numa gaiola, como pode representar a liberdade, sendo que em muitas situações a única forma de sair desse aprisionamento é se tornar exatamente quem ou o que você teme! Real, né?

Capa do livro “Revolução dos Bichos”

Há momentos da vida em que é preciso decidir entre apanhar ou bater. Não que isso justifique os atos de um ditador, mas penso: como não ser um opressor quando sua vida é uma verdadeira opressão, sem possibilidade para novos caminhos? Um conhecido ditado popular diz “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”; nessa situação, a única forma da vítima se livrar é se tornando quem a lhe persegue – o “bicho”.  

Já Sansão foi o personagem que mais me apeguei na história… trabalhador, forte, porém por suas fragilidades tinha dificuldades para aprender. Acreditando que, por ser “burro”, ele deveria recompensar o mundo com o seu trabalho braçal. Sansão trabalhava, trabalhava e trabalhava e quando era alertado para dar uma pausa, ele dizia que precisava trabalhar mais e que o líder, por essa escravidão que estava vivendo, que considerava que sempre estava certa. Sansão me fez refletir em quando deixamos de fazer algo que amamos para trabalhar, quando perdemos momentos em família/amigos por termos obrigações, e no fim estamos tão imersos nisso que só trabalhamos e trabalhamos, sem nem cogitar tempos de lazer, sendo o mais intrigante de tudo, quando tiramos um tempo para nós, fazer coisas que gostamos, nos culpamos totalmente por isso, acreditando que estamos gastando tempo com coisas fúteis.

Porém a morte de Sansão foi o ápice do personagem: seu corpo, que já foi abusado em toda vida, agora era usado até depois da sua morte, para obter lucros. Quantas pessoas não morrem, ou melhor, dão a vida por ideias que não são delas ou pela simples ilusão de que no final terão uma recompensa? Te questiono se vale a pena deixar de viver pra ser feliz apenas no fim? E se não existir um final?

É frustrante viver na esperança e não saber se no fim a recompensa realmente virá, e pra ser sincero, só vivemos de esperanças: na religião, de ir pro céu, no trabalho, de se aposentar, na universidade, do diploma… é uma pirâmide de incertezas, e o mais louco de tudo é que se você não segui-la é julgado. Nos momentos de leitura, acreditava que todos meus questionamentos sobre a vida iam se sanar, mas não, eles só cresciam… refletir em como entregamos a nossa liberdade a custo de nossa própria existência é confuso, estar em um sistema que te exclui por ser quem é. Se torna devastador, você se enxerga apenas como um parafuso em meio a engrenagem.

Lendo a obra, me culpei diversas vezes por estar onde estou, e me submeter em certos espaços que não quero. Porém eu vi que não é culpa minha e sim de um sistema maior, que de certa forma me obriga a fazer exatamente o que querem e como querem. A elite controla, e o mais doido é que ela fornece sensações para acreditarmos que estamos escolhendo, porém até essas possibilidades vão te levar exatamente para onde querem. Em que ponto o ser humano deixou de ser animal, ou quando o animal se tornou ser humano? Concluo minha resenha te convidando a refletir nessa parte do livro:

As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem e quem era porco.

capítulo final, A Revolução dos Bichos.

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