A psicologia e a reconexão com a natureza

Por Marcos Lacerda

No passado, na época em que nós humanos dormíamos em cavernas, sobrevivemos utilizando o que buscamos na Terra-floresta. Tudo estava lá: animais, frutas, raízes, folhas e flores curativas etc. 

Existia uma harmonia entre o humano antigo e a natureza, ele sabia que dependia dela para sobreviver e o seu nomadismo fazia com que ela sempre pudesse se renovar, respirar, pois não tinham lugares fixos de caça e coleta.

Ilustração: Revolução Econômica e Agrícola Russa 1848/Reprodução Canva

Com a revolução agrícola o comportamento nômade foi sendo deixado de lado – não era mais necessário sair do lugar, afinal de contas, o humano já consegue plantar e colher na mesma região e criar seus próprios animais, ele já aprendeu a “dominar a natureza”.

Como já havíamos aprendido a acumular e vender, não era mais suficiente cultivar plantas e criar animais para se sustentar. Na revolução industrial nossa espécie foi ainda mais longe, o humano aprendeu a dominar o próprio humano para que se acumulasse e vendesse ainda mais.

De acordo com a ciência, a humanidade tem aproximadamente 2,5 milhões de anos, mas faz aproximadamente 14 mil anos que aprendemos a “dominar a natureza”. Isso nos indica que a nossa estrutura psicológica está mais adaptada à convivência totalmente harmônica do que com qualquer outro tipo de relação que viemos a desenvolver depois. São evidentes os impactos no meio ambiente causados pela nossa ruptura com as formas não humanas de natureza, mas o que dizer dos impactos psicológicos em cada um de nós? Isso é o que estuda a Ecopsicologia.

A ecopsicologia é um campo de estudos que resulta do encontro da ecologia e a psicologia, diferente do que costumamos observar em muitos dos discursos em prol da preservação ambiental, que falam da importância e urgência de medidas de cuidado com a natureza de um ponto de vista apenas intelectual, comportamental e em alguns casos até mercadológico, o pensamento ecopsicológico propõe uma reconexão com a natureza de nível afetivo, emocional e existencial, a ponto de cada humano compreender que ele é natureza. Não pertencemos a ela e nem a possuímos, mas somos natureza.

De acordo com C. G. Jung, a crise ambiental é o espelho do nosso estado psíquico e tudo que pertence a uma realidade externa, também ocupa um lugar interno em nós. 

Na mesma medida que a humanidade retira recursos da natureza em um espaço de tempo desproporcional ao tempo que ela leva para repor, assim também fazemos com nossos recursos e habilidades mentais.

Quais seriam os impactos de uma reaproximação com a natureza, uma observação dos ciclos da vida, reconexão com um ritmo mais manso. Na era do imediatismo, alta performance e ansiedade, tempos nos quais não há espaço para recuperação, contemplação, observação e não-ação, reconectar-se com a natureza é reconectar-se consigo mesmo.

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