A IMPOTÊNCIA DA POTÊNCIA FEMININA NA COP 27
Por Daniela Cruz, do Engajamundo
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Formar a delegação do Engajamundo esse ano foi desafiador, não apenas pela difícil escolha entre os candidatos potentes a ser parte da delegação, mas pelo receio com a segurança das pessoas que são lidas como mulheres.
Nossa maior preocupação ainda no Brasil era o assédio, mas não imaginávamos que, além do assédio e da importunação, nós carregaríamos a sensação de impotência, de ter que depender de uma figura masculina para nos sentirmos seguras, para pedir uma refeição, para irmos ao banheiro em determinados locais, para pegarmos um transporte, para pedirmos uma informação na rua. Tínhamos que sempre andar em grandes grupos de mulheres, nos cobrir mais, mesmo que já estivéssemos cobertas e ouvir certas “gracinhas” que para a gente só traziam desconforto. Sem falar que às vezes os preços eram bem mais altos para nós do que para os homens.
Era raro você ver uma mulher local na rua ou trabalhando fora de casa, sei que a cultura é outra, que tem o fator da religião, porém isso fazia com que a gente lembrasse que lá, no Egito, a nossa liberdade tinha um limite gigante.
Dentro do espaço da COP 27 esse desconforto era menor, mas não se engane em pensar que esse local é pensado para mulheres e meninas. A cada camada que descemos percebemos os olhares e a falta de oportunidade genuína nos espaços. Pois, imagine os seguintes recortes, em ser mulher, em ser uma mulher racializada, ser uma mulher racializada do sul global e ser uma jovem mulher racializada do sul global. Escrevo como uma mulher cis, e nem consigo imaginar como é para as mulheres trans existir em espaços onde sua existência nem é aceita e sempre estão na mira.
Para ocupar lugares de destaque, ainda é preciso se provar bastante enquanto jovem, ainda mais enquanto jovem mulher. Por isso, o espaço do pavilhão da infância e juventude foi tão significativo para nós. Nos sentimos representadas, tínhamos espaço seguro e de acolhimento para fazer nossas vozes, pesquisas e trabalhos serem ouvidos e ecoados.
Faz poucos anos que a interseccionalidade com o recorte de gênero passou a caber na maior conferência de clima. E é absurdo imaginar que sendo as mulheres e meninas as mais impactadas, quando falamos das consequências da crise climática, não tendo espaço para debater as soluções.
A gente representa o maior número de pessoas refugiadas do clima, a gente sofre com a falta de oportunidades, do estudo básico ao mercado de trabalho, a gente é suscetível ao alto risco de violência, apenas por sermos mulheres.
E tudo isso impacta na nossa resiliência em enfrentar a crise climática.
E fica naquele limbo de nos privarem de termos formações, e quando temos formações nos privarem de termos espaços significativos. A letra de James Brown “It’s Man’s Man’s World” e a letra de Taylor Swift “I’m so sick of running as fast as I can, Wondering if I’d get there quicker if I was a man”, nos lembra que sim, é um mundo de homens, feito para homens, e que é cansativo nos esforçamos o máximo que podemos, sendo que se fossemos homens conseguiríamos respeito, espaço e liberdade muito rápido.
Mas a gente não desiste, e quando falamos que o futuro é feminino, queremos dizer que só combateremos a crise climática ouvindo quem sofre na pele as consequências, quem vive no dia a dia as injustiças de uma sociedade que finge que não somos significantes e que a solução não vem das nossas mãos.
São as mulheres as mais preocupadas e as que mais estão agindo na base para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento.
A gente trabalha, produz e consome. A gente merece equidade e liberdade.